sexta-feira, 29 de julho de 2011

Fraternidade ( ou um novo ensaio sobre a cegueira)




Só agora compreendo
Como é fácil apregoar,
Num tom de estridente humildade,
Faceira comiseração,
Ramificada verdade,
Encenada doação,
A palavra FRATERNIDADE.

Para começar,
E dar um tom plangente,
Um quadro comovente,
Afoga-se a palavra
Em pretextos de amor e compaixão,
Sofrimento a sofrimento,
Lágrima a lágrima,
Consciência a consciência,
Hasteando afecto sazonado
Num bizarro comércio de emoção.

Depois, a receita é fácil.
Abrem-se as cortinas ao mundo,
Apresenta-se a farsa habitual
Da caridade pomposa, volátil,
Ungida em rituais de esquiva intenção,
E só resta aguardar,
Num tom solene de ocasião,
Que aplaudam o abnegado gesto
Com lustrosa veneração.

Em seguida,
Quando até o Universo queda
Mudo, comovido,
O Homem,
Num gesto enfeitado
De acomodada humanidade,
Embrulha a fraternidade,
Devagarinho, bem de mansinho,
Para si, lançando-a, quando convém,
Com inexorável alheamento,
No limbo do esquecimento.

A.R

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"O homem que não está disposto a morrer por uma causa não é digno de viver".
Martin Luther King

Missª Haja Hope

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